Os Afro-negros do Brasil
Recentemente vi alguém chamar Machado de Assis de afro-descendente.
Ora, o referido autor era, sabidamente, mulato. Em outras palavras, mestiço,
moreno, ou, como o IBGE gosta de chamar, pardo. Todas
essas definições são corretas, mas não são
politicamente corretas. Agora querem chamá-lo de afro-descendente,
a definição que seria politicamente correta, mas de fato incompleta.
Conforme de costume, a verdade é politicamente incorreta.
Machado era tão euro-descendente quanto afro-descendente. Não
era nem só uma coisa, nem outra, sendo portanto igualmente incompleto
define-lo simplesmente como um ou outro. Esse tipo de definição
afro-descendente vem do conceito racista de que uma gota de
sangue negro torna a pessoa inteiramente negra. Por isso que nos EUA a
Hale Berry é "negra".
É o caso do americano de etnia claramente branca que descobre que tinha
um bisavô negro e fala: Oh! Eu sou negro!. Usando esse critério,
quase qualquer um no Brasil pode se dizer afro-descendente como
vem ocorrendo sob o critério de auto-declaração.
Provar que alguém no Brasil não tem um ancestral negro não
é nada fácil, até o FHC já fez declarações
nesse sentido.
Não se trata de dizer que o racismo não existe no Brasil,
mas apenas que é diferente aqui. Duas coisas podem existir ao mesmo tempo
e serem diferentes. Observar que são diferentes não é o
mesmo que negar a existência de uma delas. Nos EUA praticamente não
existia miscigenação racial e o mero conceito de uma pessoa possuir
mais de uma etnia sequer era avaliado demograficamente até o passado
recente.
De qualquer modo, os cientistas não dizem que toda a espécie
humana veio da áfrica? Não seriamos todos, desse modo, afro-descendentes?
E até que pontos devem ser misturados localização geográfica
e cor de pele? Tem muitos brancos na Noruega, e muitos negros no Senegal, mas
existem europeus negros e africanos brancos. Seriam os primeiros afro-europeus
e os segundos euro-africanos?
Fica difícil saber o que o Machado acharia disso tudo. Mas algo me diz
que ele não seria o fã número um do politicamente
correto.
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