Julia entra em casa. Escuta alguns gemidos, e vai até o master bedroom. Fica chocada. Da de frente com uma cena dantesca que só pode ser descrita como uma morsa doente escalando uma pedra. É o seu marido.
Julia: (gritando) Astolfo, seu canalha! Na minha cama, com minha melhor amiga?
Astolfo: (Tranqüilo, senta na cama, coloca os óculos): Calma, Julia. Muita calma nessa hora.
Julia: (nervosa) Calma? Calhorda!
Astolfo: Não é nada disso que você esta pensando.
Julia: Como não!? Eu estou te vendo, pelado, com minha melhor amiga, igualmente pelada, na cama! Na nossa cama!
Astolfo: Sim, mas não foi culpa nossa. Você não pode simplesmente analisar a realidade presente e ignorar a seqüência de causas naturalísticas e deterministas que nos trouxeram a este ponto inevitável, qual seja, o nosso status de nudismo na cama.
Julia: Para de enrolar, Astolfo!
Astolfo: Mas é verdade. Não seja tola. Livre arbítrio é uma ilusão (gesticula com as mãos), uma ilusão, eu te digo! A Mônica veio aqui procurando por ti, porque a bateria do celular quebrou e não recebeu teu aviso para encontrá-la no shopping. Portanto, a causa é qualidade da bateria do celular. Culpa dos nórdicos. Não é toa que os Vikings usam capacetes com chifres, tendo baterias assim.
Julia: Mas vocês não precisavam ir para a cama.
Astolfo: Ah, mas precisávamos sim. Foi instinto. Milhões de anos de evolução que formaram todas as formas de vida nesse planeta. O homem é naturalmente moldado pela natureza como infiel, a monogamia é uma construção social. Ela queria, eu queria, havia a oportunidade e os meios. As causas tornaram o evento inevitável.
Julia: Vai tomar no teu [cinema nacional] gordo, Astolfo. (Bate a porta, e vai embora)
Astolfo: (suspira, e olha para Mônica) Gente ignorante é fogo. Mais champagne?
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