domingo, 30 de janeiro de 2005

Dia das eleições no Iraque

A esperança venceu o medo. Um justificado medo de terroristas e bombas. Que mataram, mas não venceram. Mais no Iraq the Model. Uma democracia pode estar surgindo onde poucos acreditavam ser possível.



Update:



Retrocesso totalitário no Brasil. Agora o governo federal vai filtrar as pesquisas do IBGE para que nenhuma informação sobre a realidade venha a entrar em conflito com seus interesses os interesses políticos.


sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

O mistério do Sudário de Turim

Sempre é bom ter algo de misterioso e sagrado em um mundo de ideais pasteurizados e entusiasmos insossos.


Um novo estudo publicado em uma revista cientifica indica que a Relíquia é mais antiga do que se imaginava. Nenhuma surpresa, visto que os testes de Carbono 14 foram objeto de criticas. Ao que parece, as amostras colhidas não faziam parte do tecido original.


Trata-se sem dúvida de algo excepcional. Mesmo que fosse falso, seria completamente único. Em plena idade média um artista teria conhecimentos de anatomia séculos antes de seu tempo. E o meio pelo qual a pintura foi fixada no tecido até hoje é um total mistério.


Sempre deve ser lembrado que o Sudário não é oficialmente reconhecido como verdadeiro. E não é provável que qualquer estudo possa declará-lo autêntico. A fé não pode depender de provas materiais. Felizes são os que acreditam sem ver.


Portanto, não deve ser encarado como algo necessário. Mas o fato é que existe, e não pode ser ignorado. O homem tem a liberdade e a capacidade de racionalizar dados empíricos para melhor adequá-los às suas convicções. Quem tem fé não precisa do Sudário. Pode acreditar, mas não de uma maneira dependente. Quem não tem fé dificilmente mudará de opinião por uma prova cientifica.


Acredito que o Sudário sirva para nos fazer meditar sobre a Paixão e Ressurreição de Cristo. Um símbolo sobre a realidade que alterou para sempre a condição humana.


Grandes Momentos do Cinema

Método Darth Vader para vencer um debate (Star Wars, 1977).





Motti: This station is now the ultimate power in the universe. I suggest we use it!

Vader: Don't be too proud of this technological terror you've constructed. The ability to destroy a planet is insignificant next to the power of the Force.

Motti: Don't try to frighten us with your sorcerer's ways, Lord Vader. Your sad devotion to that ancient religion has not helped you conjure up the stolen data tapes, or given you clairvoyance enough to find the Rebel's hidden fort...

(Vader Force Choke)

Vader: I find your lack of faith disturbing.



Avisos que deveriam existir II

quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

Como escrever textos de retórica vazia

Existe um processo crescente de uniformização do discurso no Brasil. Cada vez mais o texto objetivo vem perdendo espaço para a retórica vazia no idioma português. Não é mais necessário recorrer a organizações como Caros Amigos, Carta Capital ou Carta Maior. Nem esse tipo de recurso é usado somente por comentadores de blogs e comunidades do Orkut. Esse discurso permeia insidiosamente o acadêmico e jornalístico. A intolerância com a dissidência torna-se evidente. Cada vez mais os padrões de aceitabilidade do pensamento considerado independente estão se tornando norteados por discurso ideológico.



Vejamos algumas regras básicas:



  1. Escolha um tema, real ou imaginário.

  2. Culpe os inimigos de sempre. No caso brasileiro, os EUA, o Bush, o capitalismo e a burguesia.

  3. Invente uma justificativa para isso. Qualquer uma. Uso de expressões vazias como "exclusão social" e “justiça social” é obrigatório, independente da relevância com o tema. Também é licito inventar expressões novas, sem medo do ridículo. Porque não um “saneamento básico social” ou “engenharia de materiais social”?

  4. Entre em contradição na segunda metade do artigo, defendendo o oposto do começo, mas ainda culpando os mesmos grupos, quais sejam, os EUA, o Bush, o capitalismo e a burguesia. Lembre-se: americanos somos nós. Eles são estadunidenses.

  5. Não faça sentido. O que pode ser compreendido, pode ser rebatido. O Bush deve ser tratado, ao mesmo tempo, como burro e gênio do mal. Os terroristas são, simultaneamente, aliados dos EUA e seus piores inimigos. Apenas a repetição incessante pode iludir a mente a ignorar contradições básicas.


Modelo 1


[Título]

[Grupo de minoria não ocidental] ocidentalizados, culturalmente colonizados pelo neoliberalismo estadunidense, fazem [assunto] demonstrando sua subserviência moral ao sistema excludente de renda que explora os paises subdesenvolvidos. Mais um sinal que a doutrina Bush esta dominando o planeta, um [objeto relacionado] de cada vez.



  • Exemplo 1

    Mostra de escultura de gelo em Tóquio

    Nipônicos ocidentalizados, culturalmente colonizados pelo neoliberalismo estadunidense, fazem estatuas de gelo demonstrando sua subserviência moral ao sistema excludente de renda que explora os paises subdesenvolvidos. Mais um sinal que a doutrina Bush esta dominando o planeta, uma escultura de gelo de cada vez.

  • Exemplo 2

    Jogos Indígenas

    Índios ocidentalizados, culturalmente colonizados pelo neoliberalismo estadunidense, fazem jogos de esportes imperialistas demonstrando sua subserviência moral ao sistema excludente de renda que explora os paises subdesenvolvidos. Mais um sinal que a doutrina Bush esta dominando o planeta, uma aldeia de cada vez.


Modelo 2


[Título]

Mais uma vez as [populações não ocidentais], que sofreram séculos de exclusão social devido às forças do capitalismo, tentam defender seus direitos contra o modelo imperialista do consenso de Washington. Desta vez, por meio de [assunto]. Nessa tentativa de auto-afirmação as culturas entram em conflito com a visão unilateralista da doutrina Bush.



  • Exemplo 3

    Jogos Indígenas

    Mais uma vez as populações indígenas, que sofreram séculos de exclusão social devido às forças do capitalismo, tentam defender seus direitos contra o modelo imperialista do consenso de Washington. Desta vez, por meio de jogos. Essa tentativa de auto-afirmação por meio dos esportes entra em conflito com a visão unilateralista da doutrina Bush.

  • Exemplo 4

    Mostra de estátuas de gelo em Tóquio

    Mais uma vez as populações asiáticas, que sofreram séculos de exclusão social devido às forças do capitalismo, tentam defender seus direitos contra o modelo imperialista do consenso de Washington. Desta vez, por meio de estatuas de gelo. Essa tentativa de auto-afirmação por meio das artes entra em conflito com a visão unilateralista da doutrina Bush.


Como podemos perceber, os modelos servem para praticamente qualquer propósito. Vamos, tente fazer seus próprios. Também é possível misturar diferentes modelos, não sendo necessária grande coesão.Basta seguir as regras básicas.


quarta-feira, 26 de janeiro de 2005

terça-feira, 25 de janeiro de 2005

Porque as mulheres caem em cantadas ruins?

Trata-se de um dos temas de estudo dentro os mais debate sobre a mente feminina. Diversas teorias existem para tentar elucidar o fenômeno. Examinemo-las a seguir.


1. Fantasia (inverdade)

Mulheres não caem em cantadas ruins. Visão idealista facilmente desacreditada pelos fatos de que parte das mulheres cai sim.


2. Inteligência (ou falta dela)

Apenas as mulheres burras caem em cantadas ruins. Seria simples se fosse assim, mas com o mesmo fato se verifica com as inteligentes.


3. Não existe cantada boa (assim como trocadilho)

Se toda cantada é ruim, não resta opção às mulheres a opção de aceitar as cantadas boas. Doravante, por definição, qualquer cantada será ruim.


4. Precaução (cantada boa é coisa de viado)

Homens bonitos, ricos, ou de outro modo desejáveis não precisam de cantadas boas. Logo, suas cantadas serão ruins e pouco elaboradas. Se alguém aparece com uma cantada boa, logo se desconfia que exista algo de errado com o sujeito.


5. Interesse (objetividade)

Essa pode operar conjugada com as opções 3 e 4. Se a mulher quiser o homem, vai topar até mesmo a cantada ruim. Depende de uma visão mais cínica de mundo.


6. Estratégia (vai com calma)

Homens têm medo de mulheres inteligentes. Portanto, elas fingem ser burrinhas e entram na conversa mole para não assustar. Ora, isso se parece demais com seção de “pergunte á sexóloga” de revista de fofoca para ser verdade.


7. Aleatoriedade (ninguém entende as mulheres)

Não existe motivo baseado em causas e explicações racionais. Apenas é assim, e não adianta ficar quebrando a cabeça.

domingo, 23 de janeiro de 2005

Resenha - Team America: World Police


America , fuck yeah. Freedom is the only way.


Finalmente um filme consegue capturar toda a complexa trama de geopolítica global, e acaba sendo mais informativo que o jornalismo brasileiro. Os criadores de South Park Trey Parker e Matt Stone eqüitativamente esculacham tanto vermelhos e azuis, e ambas as cores são usadas pelos heróis.


Claramente inspirado na série cult de TV Thunderbirds, O filme inteiro é rodado com marionetes e miniaturas. Os americanos são completamente incapazes de agir discretamente e são alheios aos danos colaterais causados por suas ações policiais. Em breve passagem por Paris, destroem a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo e o Louvre. Os inimigos são os terroristas, devidamente estereotipados, que tem obtido WMDs. Logo se descobre que o fornecedor é o ditador Norte Coreano Kim Jon Il (que tem a voz feita pelo diretor do filme), uma atração à parte como principal vilão com um plano para conquistar o mundo. Ou destruí-lo. Or something.


Os oponentes mais engraçados, contudo, são os atores metidos a besta da elite esquerdista de Hollywood. Sean Penn explica como era Iraque antes da invasão americana, um local maravilhoso onde as crianças brincavam em rios de chocolate. Janeane Garofalo afirma que os atores devem ler opiniões no jornal e repeti-las no dia seguinte na TV, como se fosse deles. Isso se aplicaria aqui caso os atores brasileiros lessem jornal. O líder do Film Actors Guild (F.A.G.), Alec Baldwin, defende que o que falta ao mundo é a liderança de um grupo de experts em política internacional, ou seja, eles mesmos. O filme conta, entre outras estrelas, com George Clooney, Helen Hunt, Micheal Moore, Tim Robbins, Susan Sarandon, Liv Tyler, Samuel L. Jackson, e até mesmo Hans Blix. No final os atores acabam enfrentando os heróis – afinal eles já fizeram filmes de ação. Após histéricas seqüências de luta, todos têm um final brutal extremamente gráfico. O quão brutal é possível considerando-se fazer com marionetes.


Mas de modo algum Team América deve ser encarado como filme conservador. Pelo contrario, conta com toda sorte de linguagem abusiva e uma seqüência cômica de sexo explícito. As roupas e os veículos são exageradamente elaborados com as cores e símbolos dos EUA. Junto com o nome de uma cidade nos letreiros, aparece sua distancia para a América. No caso da Cidade do Panamá, a distancia para a “Verdadeira America”. Pelo que consta os produtores são libertarians e não se encaixam em nenhuma ala do bipartidarismo americano. Mas são bem menos democratas do que republicanos, por assim dizer.


A trilha sonora é uma atração em especial. A ação é boa, a historia é fluida, e, o mais importante, o filme é completamente hilário. Umas das melhores comedias dos últimos tempos. O discurso final demonstra uma compreensão sobre política internacional que deve fazer inveja ao Itamaraty, que infelizmente não vai entender já que não precisam mais falar inglês. Mas isso é inacreditável demais até para esse tipo de filme.


Resenha ruim: Ebert ficou ofendidinho porque atacaram a elite de Hollywood. Ridículo. Aliás, demonstrou não ter idéia do que seja niilismo.


Resenha boa: Rolling Stones gets it.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

Secrets of Orkut

Querem saber quantos corações tem no Orkut? Quer afagar seu ego, ou quebrá-lo em mil pedaços como uma estatua de golfinho de gelo derrubada por bêbado em festa de casamento?


Seus problemas acamaram!


Aprenda já o antigo ritual secreto para descoberta dos dados orkut.


Selecione SEARCH.


Em Location, escolha ANYWHERE.


Em Show, escolha FRIENDS.


Aperte SEARCH, e pronto. Sua lista de amigos com um número indicando quantas carinhas, cubinhos de gelo e corações.


Not half bad. Mas e como saber dos seus próprios números?


Simples, peça para um amigo. O Orkut é uma comunidade, afinal de contras, cujo propósito se comunicar e fazer amigos.Vá se socializar. Pero non troppo.


Pensamento orkutiano do dia: As comunidades de individualistas costumam ser vazias.


quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

Muita calma nessa hora

Julia entra em casa. Escuta alguns gemidos, e vai até o master bedroom. Fica chocada. Da de frente com uma cena dantesca que só pode ser descrita como uma morsa doente escalando uma pedra. É o seu marido.


Julia: (gritando) Astolfo, seu canalha! Na minha cama, com minha melhor amiga?


Astolfo: (Tranqüilo, senta na cama, coloca os óculos): Calma, Julia. Muita calma nessa hora.


Julia: (nervosa) Calma? Calhorda!


Astolfo: Não é nada disso que você esta pensando.


Julia: Como não!? Eu estou te vendo, pelado, com minha melhor amiga, igualmente pelada, na cama! Na nossa cama!


Astolfo: Sim, mas não foi culpa nossa. Você não pode simplesmente analisar a realidade presente e ignorar a seqüência de causas naturalísticas e deterministas que nos trouxeram a este ponto inevitável, qual seja, o nosso status de nudismo na cama.


Julia: Para de enrolar, Astolfo!


Astolfo: Mas é verdade. Não seja tola. Livre arbítrio é uma ilusão (gesticula com as mãos), uma ilusão, eu te digo! A Mônica veio aqui procurando por ti, porque a bateria do celular quebrou e não recebeu teu aviso para encontrá-la no shopping. Portanto, a causa é qualidade da bateria do celular. Culpa dos nórdicos. Não é toa que os Vikings usam capacetes com chifres, tendo baterias assim.


Julia: Mas vocês não precisavam ir para a cama.


Astolfo: Ah, mas precisávamos sim. Foi instinto. Milhões de anos de evolução que formaram todas as formas de vida nesse planeta. O homem é naturalmente moldado pela natureza como infiel, a monogamia é uma construção social. Ela queria, eu queria, havia a oportunidade e os meios. As causas tornaram o evento inevitável.


Julia: Vai tomar no teu [cinema nacional] gordo, Astolfo. (Bate a porta, e vai embora)


Astolfo: (suspira, e olha para Mônica) Gente ignorante é fogo. Mais champagne?

The Dog ate my Free Will

Alguém já parou para pensar a quantidade de esforço filosófico desprendido numa tentativa de se negar o livre arbítrio?


Determinismo (biológico, genético, social, econômico, socioeconômico, histórico, evolutivo, materialista, psico-genetico-evolutivo com cebolas), niilismo, pessimismo, dadaísmo, e por ai vai. Coisa de quem acredita no demônio de Laplace.


Primeira Causa? Deísmo.


Senso de responsabilidade, razão, livre arbítrio, cognição, reflexão, diferença ontológica, culpa, solidariedade? Uma grande piada de Deus ou da natureza, caso consiga distinguir alguma diferença.


Curiosamente, para quem sabe que o livre arbítrio existe, tanto pelo conhecimento religioso quanto pelo empírico, isso tudo é quase sem sentido.


É como uma criança que quebra um vaso. A culpa não é dela. Nunca. Foram outras causas.


“Calma, não é nada disto que você esta pensando!”. E não é mesmo. Determinismo, baby. Não é culpa minha.


Agora, quando arranham o carro do determinista, ele fica chateado. Porque? Foi uma seqüência inevitável de causas naturalísticas. Nada que role nenhum sentimento.


Nada pessoal. Nada é pessoal. Nada é pessoa.


No direito, loucura é uma forma de negação do livre arbítrio. Na filosofia, ao que parece, é o contrário.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2005

O Argumento do Mal

Possivelmente o mais antigo dos argumentos contra a existência de é conhecido como o “Argumento do mal”. Consiste na afirmação quem um Deus Onipotente e Misericordioso jamais permitiria a existência de mal no mundo.


Esse argumento tem um grande peso na comunidade cientifica, tendo sido utilizado, entre outros, por Charles Darwin. Não é propriamente um argumento ateísta, não sendo, em si, incompatível com o argumento da Primeira Causa. Então é possível conjugar ambos em uma postura deista, que aceite Deus como causa primeira, mas não um Deus onipotente que interfira no mundo.


A “Questão do mal”, como também é conhecida, sofre de diversos problemas de ordem puramente lógica. Para que faça sentido, é necessário que o bem e o mal existam e sejam absolutos, o que é praticamente inconcebível sem aceitar-se a existência de Deus. Nesse nível, é quase plenamente auto-refutável.


Outra resposta defende que qualquer extrapolação nesse sentido é necessariamente incompleta. O homem vê apenas as coisas visíveis, e não as invisíveis. Não há como se fazer uma analise completa sem um conhecimento igualmente completo que não é disponível ao homem. Aqueles que acreditam que nenhum conhecimento que lhes seja inatingível não se satisfazem com essa postura. Como, por definição, o método cientifico se restringe a explorar conhecimentos verificáveis, tem a tendência de negar tudo que não se enquadre nesse parâmetro.


A elucidação determinante vem do Genesis. O pecado original deu origem a todos os outros. Neste caso não é diferente, porem talvez esse argumento mantenha uma relação especial com o seu preceito básico.


O pressuposto fundamental do “Argumento do mal” é que o homem tem a capacidade de conhecer o bem e o mal. Sem o conhecimento definitivo sobre o que é bom ou mal, tal argumento não pode ser proposto.


De acordo com a Bíblia, o pecado original consiste exatamente em tentar obter o conhecimento definitivo entre o bem e o mal. Conclui-se que, para se fazer o “Argumento do Mal”, é necessário morder o fruto proibido. Não há outra maneira.


A questão aqui é a ausência de humildade pura e simples de admitir-se que o homem não tem um conhecimento maior que o de Deus e, portanto, não pode questioná-Lo. A negação está nesse pressuposto em si, e não na pergunta. O argumento é irrelevante, pois já foi respondido, a priori, antes mesmos de ser proposto. Como qualquer questão sobre fé, trata-se de uma escolha. A discussão acerca desse tema será, conseqüentemente, infrutífera.

domingo, 16 de janeiro de 2005

A Vaidade das Amebas: Genes e Duendes

Entre muitos, tornou-se bastante popular a mensagem de materialismo militante de indivíduos como Richard Dawkings e Carl Sagan. Não é complicado entender, psicologicamente, o torna o discurso tão atrativo. Primeiramente, claro, é o fato de incutir-lhes uma sensação latente de superioridade. Outro fator fundamental é o conforto - e isso é uma característica religiosa - que dá a sensação de liberdade ao saber que não existe ninguém para vigiar ou puni-los, tampouco uma justiça verdadeira. No fundo, a mensagem é o absoluto determinismo que elimina o livre arbítrio - um conceito religioso que não pode ser alcançado empiricamente. Em resumo, um oba oba cósmico, onde ninguém é de ninguém no vale tudo existencial. Não só inexiste punição, como sequer existe certo e errado, e, ainda que existisse, ninguém é responsável pelos próprios atos.


Claro que o preço disso é reduzir o homem, a existência humana e o universo a praticamente nada. É retirar o sentido de tudo. Mais curioso é ver a arrogância daqueles que encontram sentido em não haver sentido. Os que se acham donos da verdade absoluta de que não existe verdade absoluta. Aqueles que estão certos de que não existe certo e errado – e que os que acham o contrário estão errados. Paradoxo, obviamente, é algo que não deve existir também.


Bonito de ver é a vaidade daqueles que basicamente se enxergam como amebas superdesenvolviudas. Sim, porque o que separa o ser humano da ameba são alguns milhões de anos de evolução. Quando você for parar no hospital com um caso agudo de giárdia após comer uma salada suspeita, lembre-se: é briga de família.


Receita materialista para se fazer um homem.

Crie um universo.

Crie um planeta que possa sustentar vida.

Crie vida.

Vai soltando radiação cósmica e erros de cópia. Claro que ambas as coisas são, praticamente sempre, danosas ou inúteis.

Adicione tempo.


PIMBA! Terás o homem. Simples, não? Meus caros leitores e leitoras, tenham cuidado, porque caso achem algo disso improvável, sereis considerados tolos supersticiosos. Assim mesmo. Tem gente que acredita em duendes. E tem gente que acredita que tudo é fruto do acaso. A proporção populacional de ambos deve ser a mesma.


Oh, como se sentem superiores aos seus semelhantes, apesar de terem como auto-imagem um aglomerado de moléculas animadas sem propósito. Como se consideram espertos, ao mesmo tempo se acham um mero mecanismo para a reprodução de aminoácidos – afinal, os genes, não os humanos, são os verdadeiros seres vivos.


Já deu bom dia para um gene hoje? Já leu blog escrito por genes? Claro que já! Eles é que mandam em tudo, até você. Faltam os adesivos “Eu acredito em Genes” e as estátuas temáticas de Genes a serem vendidos em lojas esotéricas. Assim como duende, existe gene para arrumar tudo: riqueza, poder, inteligência, marido, espinhela caída, viagra, passar no vestibular. O gene inteligente é uma molécula de ADN com um chapéu de mago, daqueles com estrelas, numa das helix duplas, e uns óculos de intelectual. O gene da riqueza está cercado da bufunfa, talvez com roupa de tio patinhas e as helix formamdo um cifrão. O da sabedoria tem uma barba, e por ai vai. E isso tudo é ciência pura, viu, *piscadinha*, *piscadinha*, *cotovelada*, *cotovelada*. Cabe a nós, céticos, rirmos baixinho desse pessoal.


sexta-feira, 14 de janeiro de 2005

Da compatibilidade do capitalismo e do liberalismo com a liberdade, o catolicismo e a moral cristã.

Essa é uma grande questão que vem sido debatida há muito tempo em diversos círculos do saber humano. Muitos argumentam pela incompatibilidade. Ocorre que as origens da escola austríaca de economia estão na escola escolástica ibérica. Qual a relevância disso? Demonstra uma certa compatibilidade, ao menos em um nível teórico. O que raramente é tratado, entretanto, é a incompatibilidade intrínseca do cristianismo com regimes despóticos.


Bem deve ser dito que nenhum sistema econômico nem de longe deve ser encarado como um meio de implantação do cristianismo na sociedade. As coisas não funcionam assim. Não é o sistema econômico que molda o homem, é o homem que molda o sistema econômico. Se colocado assim soa banal, e o é, apenas prova o quão necessário é a repetição de que cada um pode guiar a própria vida melhor do que uma elite burocrática. Na sede do intervencionismo está a crença em si mesmo de doutores e poderosos maior do que na autonomia do individuo.


Isso mesmo, meus caros, não tem mágica. O sistema coletivista e ditatorial molda o individuo. Onde existe a liberdade, é o indivíduo que molda o sistema. Uma nação liberal será tão prospera e solidária quanto o forem os seus habitantes. Uma nação socialista será ruim sempre.


Não existe solução simplista. E, diga-se de passagem, cristianismo não é uma teoria econômica. A psicose modernista de transfigurar a fé cristã num amálgama pasteurizado de normas morais politicamente corretas consiste numa agressão a fé verdadeira.


Ademais, não existe solidariedade forçada. Trata-se de uma contradição em termos, uma vez que, ao ser uma coisa, deixa de ser outra. A possibilidade de florescer a verdadeira solidariedade necessita da existência da opção de não exercê-la. Mesmo que exista um ideal católico de sociedade, não é, por definição, passível de imposição. Ao contrario do que entende o crescentemente insensato “senso comum”, o catolicismo é flagrantemente incompatível com a engenharia social.


Pois não há mérito quando os indivíduos são compelidos a agir pela coletividade, ou da entidade que age em nome do coletivo, o Estado. O mesmo vale para o que é errado. A imposição do coletivismo neutraliza a responsabilidade individual e, por conseqüência, mitiga quaisquer méritos de quem pratica atos coercitivamente. Para o bem ou para o mau - porque autômatos sem consciência são menos responsáveis pelos seus atos que homens livres. Tornam-se sombras, pessoas vazias por dentro, que tem como único critério um pensamento coletivo que lhes é externo.


Porque a virtude encontra-se justamente na escolha de se fazer o que é certo. Na opção que cada um tem de, naquela hora, fazer algo diferente. Retirando-se essa escolha, retira-se do mesmo modo o mérito.


Apenas por principio, a liberdade é o caminho adequado. Isso não é menos importante que a prática, e é necessário o seu estabelecimento como base de qualquer argumentação futura. Isso se dá justamente porque, na prática, a liberdade é um meio muito melhor de organizar-se a sociedade, de todo mundo. Ainda que não o fosse por principio.


Pois entre as nações mais prósperas encontram-se sempre as mais livres. E, entre as mais pobres, as que mais limitam a liberdade. O oposto não ocorre. Países não empobrecem ficando mais livres. Não ocorre uma espiral negativa em direção a pobreza com a ampliação das liberdades humanas. Trata-se de constate histórica de ampla comprovação empírica, ao contrario das criticas, por mais notoriedade teórica que possuam. A popularidade com que contam muitas doutrinas contrárias a liberdade parece ter ascendência no vaidoso desejo de poder dissimulado de bons sentimentos, ou em boas intenções que acharam um meio equivocado para sua aplicação.


Mas, enfim, trata-se apenas de bens materiais. Isso é uma parte importante da existência do homem, mas esta longe de ser tudo. Ou o mais importante. E é sobre estas questões que o cristianismo lida. Como disse O Messias muito melhor do que nossas limitadas concepções, que se de a César o que é de César.


quinta-feira, 13 de janeiro de 2005

Microconto: A Trilogia

Manhã

Lutou contra o travesseiro, mas perdeu para os lençóis.


Tarde

Entrou em conflito consigo mesmo, e foi derrotado.


Noite

Resistiu às madeixas, mas não ao suave toque dos lábios.