quarta-feira, 24 de março de 2004

Século novo, problemas velhos

Tornou-se um espetáculo tragicômico testemunhar uma discussão
no Brasil sobre economia. É uma seqüência vulgar de comentários
erráticos sobre assuntos de nenhuma relevância. O principal problema
do ministério do planejamento é a existência do ministério
do planejamento. Econômica planificada não funciona fora das abstrações
delirantes e desejos autoritários da elite política e acadêmica.
As riquezas provem da livre atuação de todos, e não do dirigismo
estatal, independente de sua máscara ideológica.

O debate sobre o controle da inflação e a taxa é apenas
fútil. Uns afirmam o óbvio, que a política monetária
do atual governo, praticamente idêntica a do governo anterior, não
irá permitir o crescimento econômico. Outros defendem a realidade
igualmente evidente esta é a única postura possível, e
que fugir dela ira levar o país ao desastre. Mas ambos ignoram o problema
real, que a política monetária e a taxa de juros são questões
pontuais, meros sintomas do verdadeiro problema, que é bem mais complicado.
Nesse aí ninguém quer nem encostar.


O governo é enorme e drena compulsivamente uma quantidade exorbitante
de recursos da economia. O Estado, que nada produz, fica com mais de um terço
da riqueza nacional através da colossal carga tributária. Isso
arrasta a economia e, de uma maneira autoritária, impede que a população
desfrute dos resultados do próprio trabalho. Não satisfeito, o
governo suga mandatoriamente quase todo crédito da praça, gastando
uma fortuna de dinheiro público com juros. O crédito que sobra
para a população é caríssimo e difícil. E
por isso tudo dá muito pouco em troca.


O Brasil tem um Estado burocrático e extremamente interventor. É
muito difícil abrir uma empresa nesse país, mantê-la é
quase impossível. Reclamar do liberalismo só é explicável
pela sistemática desinformação e martelamento de idéias
coletivistas desprovidos de respaldo factual. Uma mentira que é repetida
para ver se cola como verdade. A livre iniciativa tolhida por todos os lados.
No índice
de liberdade econômica, o Brasil está pessimamente classificado
entre os "majoritariamente não livres", em 79º lugar.
()


Fica a sugestão que o leitor examine a lista. Busque países com
boa distribuição de renda. Dica: procurem naqueles onde existe
liberdade econômica. Depois, dê uma olhada nos países que
reprimem a liberdade econômica, e planejam e controlam a economia, e vejam
que rumo o Brasil está tomando.


Se liberalismo é liberdade econômica, isso simplesmente não
existe no Brasil, por uma enorme série de motivos culturais, ideológicos
e legais. Impera um misto de coronerismo com socialismo, transformando o governo
em um jurassik park político. O nível de intervenção
e burocracia é brutal. Isso tudo apenas aprofunda a miséria e
as desigualdades econômicas.


É importante notar a relação diretamente proporcional
de que, quanto mais burocrático e interventor o Estado, maior a corrupção.
É claro que existe o problema cultural e, por conseqüência,
jurídico. Mas não podemos ignorar a ampla oferta de possibilidades
de corrupção oferecidas por um Estado que proverbialmente cria
dificuldades para vender facilidades através de regras bizantinas e pouco
transparentes. A despeito dos melhores esforços legais, o ambiente para
a corrupção no Brasil continua fértil.


Leis trabalhistas baseadas no fascismo italiano engessam as relações
de trabalho. Na prática, uma proporção altíssima
da população trabalha na informalidade. Nessa economia informal
não existem direitos trabalhistas. Quanto mais rígidas as leis,
mais elas excluem a população de ter quaisquer direitos. Seria
preferível dar às pessoas na informalidade alguns direitos, mas
isso é ilegal. Não adianta argumentar que é possível
aplicar a lei à toda atividade econômica, que apenas falta fiscalização.
Os negócios informais, por definição, são economicamente
inviáveis dentro da formalidade legal. Quanto maior a proporção
da economia informal, mais impraticável e antieconômicas são
as regras.


Os países ricos tem tanta oposição à globalização
quantos os pobres, e, na verdade, é deles de onde parte a maior resistência
ao livre comercio. Basta pesquisar um pouco para descobrir que, dos EUA à
Europa, as justificativas políticas para defender o protecionismo vem
de todos os setores, tanto de "conservadores" quanto "progressistas".