quinta-feira, 5 de junho de 2003

Falando sobre astrologia. Ou como perder amigos.


Quando se toca num tema como astrologia e se dá uma opina, é
resultado quase certo que se vá irritar tanto amigos quanto desconhecidos.
Uma posição favorável vai lhe deixar com um ar de tolo
para os que não acreditam. Uma posição crítica vai
enfurecer aqueles simpáticos ao tema, que vão lhe achar arrogante.
O melhor é não falar nada, ou tomar muito cuidado com as palavras.


Sai recentemente uma edição da Galileu sobre o tema. Alguns se
posicionam a favor, outros contra. Os que falam contra quase sempre começam
falando da "importância histórica" da astrologia, falando
com respeito, de modo a logo de cara minimizar o impacto negativo de sua opinião.
Fazem bem.


No final existem duas opiniões mais longas, uma contra, outra a favor.
A contra foi muito bem escrita, tendo delimitado bem o tema. A matéria
a favor foi escrita por Olavo de Carvalho, tendo sido mais útil para
a entender a posição do mesmo sobre a questão da astrologia,
do que sobre a astrologia propriamente dita. Embora tenha sido bem escrita,
não creio que procedam seus argumentos. Tentou-se de vários modos
a criar uma profundidade que, realmente, não existe. Podemos dizer que
foi no estilo "nem sim, nem não, muito antes pelo contrário".
Então não é cientificamente impossível que astrologia
funciona, ou que não existem provas científicas irrefutáveis
contra esse fato. Mas o mesmo pode ser dito em relação ao coelhinho
da páscoa.


Que o Olavo goste de astrologia, que ache que é algo que possa ajudar
no auto-conhecimento, que aprecia todo o valor historio ou o lado "mitopoético"
da coisa, tudo bem. Mas daí a querer deixar em aberto o valor da coisa
como ciência é um passo muito grande. É interessantíssimo
estudar mitologia grega pelo valor que tem em si só, mas daí a
argumentar a veracidade científica dos deuses gregos vivendo no Olimpio
é um passo muito grande.


A grande questão é, ao contrário do que entende o filósofo,
simples. Ainda que, ad argumentandum tantum, seja teoricamente possível
que os astros exerçam alguma influencia no comportamento humano, nada
mudaria em relação à astrologia. Em primeiro lugar, não
há nada que justifique o que isso tenha a ver com o dia, data e hora
do nascimento das pessoas. Não há relação concebível
entre os dois elementos. Se alguma influencia existe, ou esta se dá de
maneira uniforme para todos, ou os fatores que irão causar a diferenciação
quase certamente nada teriam a ver com data do nascimento. Muito provavelmente,
seriam fatores ambientais, genéticos, psicológicos, geográficos.
Mas a realidade factual é que, conforme o argumento "contra"
da revista afirma, a única força dos astros que causa alguma influencia
na terra é a gravidade.


É um pulo absurdamente grande. Então, "se" a lua influencia
a marés, "então" astrologia funciona? Ou "pode"
funcionar? O caminho não é bem por aí. Para existir como
ciência, ela teria que percorrer o mesmo do rigor do método científico.
Até agora, falhou nesse sentido. Para existir como uma forma de "religião",
algo no qual as pessoas acreditam por fé e não por pesquisa racional,
não depende de ciência. Não estou dizendo que ninguém
não pode acreditar em astrologia. Claro que pode. Apenas não venha
dizer que é algo cientificamente comprovável.

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