sexta-feira, 14 de maio de 2004

E se fossem brasileiros

Um dos argumentos mais bestamente repetidos é "Ah, e se fosse um
correspondente brasileiro nos EUA falando mal do Bush?". Bom, para começo
de conversa, o Brasil deve agir em respeito à própria constituição,
e não à constituição dos EUA, a menos que os defensores
do presidente estejam sugerindo que rasguemos a constituição brasileira
para adotar a carta magna americana. Se essa é déia tão
ruim é caso para discutir-se em outro momento, portanto podemos nos concentrar
nos argumentos em questão.


Correspondentes brasileiros e do mundo todo falam diariamente mal do Bush,
falam até coisas piores, e nunca foram expulsos. Concordar ou discordar
das críticas é subjetivo e imaterial quanto à expulsão
de jornalistas. Do mesmo modo, um americano ficar ofendido com uma matéria
do Estado de São Paulo nunca poderia justificar a expulsão de
um jornalista brasileiro. Todo o argumento de "reciprocidade" vai
contra a medida do Lula. Isso ocorre por causa do respeito à liberdade
de imprensa. Qualquer humorista americano como o David Letterman faz piadas
contra o Bush (ou qualquer presidente), incluindo insinuações
mais graves do que as que foram feitas contra no New York Times, e não
acontece nada.


Devemos lembrar que é Liberdade de imprensa respeitar o direito de outro
publicar algo com o que você não concorde. Estamos muito mal acostumados
pela mídia nacional. Fora do Brasil nem todo jornalista tem a obrigação
de adular o presidente e seu partido.


Ainda que, por absurdo, um jornalista brasileiro fosse expulso dos EUA, seria
errado aplicar a mesma regra. Ora, uma atitude errada, real ou fictícia, de
governo estrangeiro não pode virar justificativa para rasgar a Constituição.
Imagine se a moda pega e o governo resolve adotar essa atitude em relação a
Cuba? Achar-se-iam no direito prender os críticos, fechar os partidos de oposição,
suspender as eleições, e coisas do gênero.


Vamos deixar a xenofobia paranóica de lado, e parar de tentar ver conspiração
da CIA em tudo. Nada mais ignorante e irracional do que difamar os críticos
da medida inconstitucional, como o Miguel Reale Júnior, como se estivessem
do lado do "inimigo". Eles defendem a nossa Constituição,
que é mais do que o governo federal tem feito.

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