segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

O Futuro do Passado

Uma característica comum a muitos regimes fascistas e similares do séc. XX era a idealização de um passado mítico e um futuro fantástico. Mas essa crença idealizada no futuro tem raízes mais fundas na ficção. A onda materialista e cientificista do Sec. XIX acreditava que a ciência, por si só, resolveria todos os problemas da humanidade, do saneamento básico às questões sociais. É a linha de autores como Arthur C. Clarke. Na vizinhança também está Jornada nas Estrelas e uma sociedade coletivista comandada por militares burocratas. Com um futuro chato assim, é melhor falar do passado. Ou fazer um meio termo. Surgem duas tendências:


Futuro Retrô: Guerra nas Estrelas, capa e espada no espaço.

Retrô Futurista: Liga Extraordinária, High Tech na era vitoriana.


O primeiro coloca elementos ligados ao passado em um ambiente futurista. O segundo tem sua ação num passado com o que seria alta tecnologia da época.


Independente de qualquer argumento sobre a superioridade do filme Guerra nas Estrelas original, a melhor maneira de entender a obra de George Lucas no que tange a esse argumento é dentro do da época em que foi lançado. O cinema era recheado de materialismo, pessimismo, relativismo moral, e o pacifismo pós-Vietnam. No futuro, claro, todos usavam roupas de papel alumínio e eram completamente sem graça. Chega, de repente, um filme que fala de um futuro interessante, com princesas, cavaleiros e batalhas. Onde a religião é mais forte que a tecnologia. Onde o bem e o mal se enfrentam numa guerra. Em resumo, contrariando completamente a cultura da época, foi sucesso espetacular.


A melhor maneira de conhecer o trabalho de Alan Moore, sem dúvida, é pelos quadrinhos originais, e não pelo filme. Esqueça o filme. Tem uma arte legal, mas a história não leva a lugar nenhum. O paralelo com Julio Verne é evidente. Nemo não tem apenas o Nautilus e um carro rápido. Ele um submarino e um carro rápido no séc. XIX, o que é muito mais legal. Pelo mesmo motivo invenções de Da Vinci como um tanque de guerra em pleno renascimento ainda fascinam.

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