sexta-feira, 14 de janeiro de 2005

Da compatibilidade do capitalismo e do liberalismo com a liberdade, o catolicismo e a moral cristã.

Essa é uma grande questão que vem sido debatida há muito tempo em diversos círculos do saber humano. Muitos argumentam pela incompatibilidade. Ocorre que as origens da escola austríaca de economia estão na escola escolástica ibérica. Qual a relevância disso? Demonstra uma certa compatibilidade, ao menos em um nível teórico. O que raramente é tratado, entretanto, é a incompatibilidade intrínseca do cristianismo com regimes despóticos.


Bem deve ser dito que nenhum sistema econômico nem de longe deve ser encarado como um meio de implantação do cristianismo na sociedade. As coisas não funcionam assim. Não é o sistema econômico que molda o homem, é o homem que molda o sistema econômico. Se colocado assim soa banal, e o é, apenas prova o quão necessário é a repetição de que cada um pode guiar a própria vida melhor do que uma elite burocrática. Na sede do intervencionismo está a crença em si mesmo de doutores e poderosos maior do que na autonomia do individuo.


Isso mesmo, meus caros, não tem mágica. O sistema coletivista e ditatorial molda o individuo. Onde existe a liberdade, é o indivíduo que molda o sistema. Uma nação liberal será tão prospera e solidária quanto o forem os seus habitantes. Uma nação socialista será ruim sempre.


Não existe solução simplista. E, diga-se de passagem, cristianismo não é uma teoria econômica. A psicose modernista de transfigurar a fé cristã num amálgama pasteurizado de normas morais politicamente corretas consiste numa agressão a fé verdadeira.


Ademais, não existe solidariedade forçada. Trata-se de uma contradição em termos, uma vez que, ao ser uma coisa, deixa de ser outra. A possibilidade de florescer a verdadeira solidariedade necessita da existência da opção de não exercê-la. Mesmo que exista um ideal católico de sociedade, não é, por definição, passível de imposição. Ao contrario do que entende o crescentemente insensato “senso comum”, o catolicismo é flagrantemente incompatível com a engenharia social.


Pois não há mérito quando os indivíduos são compelidos a agir pela coletividade, ou da entidade que age em nome do coletivo, o Estado. O mesmo vale para o que é errado. A imposição do coletivismo neutraliza a responsabilidade individual e, por conseqüência, mitiga quaisquer méritos de quem pratica atos coercitivamente. Para o bem ou para o mau - porque autômatos sem consciência são menos responsáveis pelos seus atos que homens livres. Tornam-se sombras, pessoas vazias por dentro, que tem como único critério um pensamento coletivo que lhes é externo.


Porque a virtude encontra-se justamente na escolha de se fazer o que é certo. Na opção que cada um tem de, naquela hora, fazer algo diferente. Retirando-se essa escolha, retira-se do mesmo modo o mérito.


Apenas por principio, a liberdade é o caminho adequado. Isso não é menos importante que a prática, e é necessário o seu estabelecimento como base de qualquer argumentação futura. Isso se dá justamente porque, na prática, a liberdade é um meio muito melhor de organizar-se a sociedade, de todo mundo. Ainda que não o fosse por principio.


Pois entre as nações mais prósperas encontram-se sempre as mais livres. E, entre as mais pobres, as que mais limitam a liberdade. O oposto não ocorre. Países não empobrecem ficando mais livres. Não ocorre uma espiral negativa em direção a pobreza com a ampliação das liberdades humanas. Trata-se de constate histórica de ampla comprovação empírica, ao contrario das criticas, por mais notoriedade teórica que possuam. A popularidade com que contam muitas doutrinas contrárias a liberdade parece ter ascendência no vaidoso desejo de poder dissimulado de bons sentimentos, ou em boas intenções que acharam um meio equivocado para sua aplicação.


Mas, enfim, trata-se apenas de bens materiais. Isso é uma parte importante da existência do homem, mas esta longe de ser tudo. Ou o mais importante. E é sobre estas questões que o cristianismo lida. Como disse O Messias muito melhor do que nossas limitadas concepções, que se de a César o que é de César.


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