domingo, 16 de janeiro de 2005

A Vaidade das Amebas: Genes e Duendes

Entre muitos, tornou-se bastante popular a mensagem de materialismo militante de indivíduos como Richard Dawkings e Carl Sagan. Não é complicado entender, psicologicamente, o torna o discurso tão atrativo. Primeiramente, claro, é o fato de incutir-lhes uma sensação latente de superioridade. Outro fator fundamental é o conforto - e isso é uma característica religiosa - que dá a sensação de liberdade ao saber que não existe ninguém para vigiar ou puni-los, tampouco uma justiça verdadeira. No fundo, a mensagem é o absoluto determinismo que elimina o livre arbítrio - um conceito religioso que não pode ser alcançado empiricamente. Em resumo, um oba oba cósmico, onde ninguém é de ninguém no vale tudo existencial. Não só inexiste punição, como sequer existe certo e errado, e, ainda que existisse, ninguém é responsável pelos próprios atos.


Claro que o preço disso é reduzir o homem, a existência humana e o universo a praticamente nada. É retirar o sentido de tudo. Mais curioso é ver a arrogância daqueles que encontram sentido em não haver sentido. Os que se acham donos da verdade absoluta de que não existe verdade absoluta. Aqueles que estão certos de que não existe certo e errado – e que os que acham o contrário estão errados. Paradoxo, obviamente, é algo que não deve existir também.


Bonito de ver é a vaidade daqueles que basicamente se enxergam como amebas superdesenvolviudas. Sim, porque o que separa o ser humano da ameba são alguns milhões de anos de evolução. Quando você for parar no hospital com um caso agudo de giárdia após comer uma salada suspeita, lembre-se: é briga de família.


Receita materialista para se fazer um homem.

Crie um universo.

Crie um planeta que possa sustentar vida.

Crie vida.

Vai soltando radiação cósmica e erros de cópia. Claro que ambas as coisas são, praticamente sempre, danosas ou inúteis.

Adicione tempo.


PIMBA! Terás o homem. Simples, não? Meus caros leitores e leitoras, tenham cuidado, porque caso achem algo disso improvável, sereis considerados tolos supersticiosos. Assim mesmo. Tem gente que acredita em duendes. E tem gente que acredita que tudo é fruto do acaso. A proporção populacional de ambos deve ser a mesma.


Oh, como se sentem superiores aos seus semelhantes, apesar de terem como auto-imagem um aglomerado de moléculas animadas sem propósito. Como se consideram espertos, ao mesmo tempo se acham um mero mecanismo para a reprodução de aminoácidos – afinal, os genes, não os humanos, são os verdadeiros seres vivos.


Já deu bom dia para um gene hoje? Já leu blog escrito por genes? Claro que já! Eles é que mandam em tudo, até você. Faltam os adesivos “Eu acredito em Genes” e as estátuas temáticas de Genes a serem vendidos em lojas esotéricas. Assim como duende, existe gene para arrumar tudo: riqueza, poder, inteligência, marido, espinhela caída, viagra, passar no vestibular. O gene inteligente é uma molécula de ADN com um chapéu de mago, daqueles com estrelas, numa das helix duplas, e uns óculos de intelectual. O gene da riqueza está cercado da bufunfa, talvez com roupa de tio patinhas e as helix formamdo um cifrão. O da sabedoria tem uma barba, e por ai vai. E isso tudo é ciência pura, viu, *piscadinha*, *piscadinha*, *cotovelada*, *cotovelada*. Cabe a nós, céticos, rirmos baixinho desse pessoal.


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